terça-feira, 8 de setembro de 2015

A mente sente, o corpo fala: efeitos da mente sobre o corpo

A mente sente, o corpo fala: efeitos da mente sobre o corpo

Já escrevemos, uma vez, sobre sintomas psiquiátricos gerados por doenças orgânicas. Nada mais adequado do que falar da contramão: como nossa mente pode influenciar nossa saúde corporal? Com o tempo, a medicina psicossomática vai crescendo e deixando cada vez mais evidente que não é possível separar o ser humano em partes (pelo menos fora do contexto didático). No mundo atual (afogado em preocupações, dilemas e discordâncias crescentes), as pesquisas vêm focando muito em como o estresse, os estados de humor e os transtornos mentais podem comprometer a saúde corporal. Dê uma olhada em algumas dessas influências (algumas delas vão realmente te surpreender).
Assim como o corpo influencia a mente, também a saúde psíquica tem grande impacto na saúde física.
Mente x Sistema Imune
Todo mundo já percebeu, pelo menos uma vez, que quando chegam os períodos de grande tensão do dia a dia (provas, um novo projeto da empresa etc) a “imunidade baixa” e nos tornamos mais suscetíveis a infecções comuns, como gripes e resfriados. A diferença é que a influência do estresse sobre o sistema imune não pára por aí.
Durante períodos de estresse, dois eixos hormonais principais são ativados: o Sistema Nervoso Simpático (produtor de adrenalina) e o eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (produtor de cortisol). O resultado da ativação crônica desses sistemas é a produção de várias citocinas (moléculas de sinalização) desencadeadoras de processos inflamatórios, em especial IL-1, IL-6 e TNF-α. Algumas pesquisas mostraram que estressores sociais (como a rejeição e o isolamento social) desencadeavam exatamente esse tipo de resposta hormonal. Em outras palavras, o estresse causa uma “inflamação em todo o corpo” que, apesar de tudo, é desorganizada e ineficaz em combater agentes causadores de doença.
Resultado: agressão a todos os órgãos do corpo (inclusive aumentando o risco de doenças cardiovasculares e outros exemplos) sem uma imunidade efetiva, tornando-nos suscetíveis a infecções. Essa inflamação, inclusive, segundo as pesquisas, favorece o desenvolvimento da depressão, fechando um ciclo vicioso.
Mente x Sistema Cardiovascular
Já vimos que a depressão, questões sociais e outras fontes de estresse aumentam o risco de infarto, tanto pela inflamação inerente ao processo, quanto pelo próprio descuido que a pessoa passa a apresentar com a própria saúde. A influência é tal que alguns estudos mostram que, em pacientes vítimas de Síndrome Coronariana Aguda (infarto ou angina), o simples tratamento psicológico (com terapia cognitivo-comportamental ou antidepressivos), sem outras intervenções, já reduz as chances de complicações e de novos eventos cardiovasculares, apesar de não reduzir a mortalidade.
Além disso, existe uma síndrome muito particular chamada Síndrome do Coração Partido ou Cardiopatia de Takotsubo. Trata-se de uma doença desencadeada por fortes estresses agudos (em especial em pacientes com Transtorno de Estresse Pós-Traumático) em que a liberação exagerada de adrenalina e outras catecolaminas submete o miocárdio a estresse intenso. Isso leva à contração vigorosa da base do coração, com necrose (ou seja, morte tecidual) no ápice cardíaco, deixando-o com a forma de um takotsubo (vaso japonês usado na pesca de polvos). O quadro pode causar uma insuficiência cardíaca grave, podendo ser fatal.
Mente x Sistema Nervoso
É claro que quando falamos em estresse, o próprio estado mental de uma pessoa vai comprometer o funcionamento do seu sistema nervoso. Contudo, isso vai além do que podemos imaginar.
Primeiramente, a adrenalina e o cortisol liberados no estresse crônico estimula a apoptose (morte) neuronal. Além disso, alguns estudos observaram que pacientes deprimidos apresentam dosagem aumentada de proteínas no líquido céfalo-raquidiano (por um mecanismo ainda desconhecido). Em um futuro próximo, isso pode ajudar profissionais na classificação ou mesmo no diagnóstico de algumas formas de depressão.
Outro exemplo interessante é a epigenética (influência do meio sobre a expressão dos genes). Observou-se que os estressores ambientais, em especial os sociais, levam à metilação do sítio promotor do gene SLC6A4, que produz um transportador de serotonina. Em outras palavras, o estresse ambiental interfere no metabolismo da serotonina e, com isso, favorece o desenvolvimento da depressão (gerando, aqui, um novo ciclo vicioso).
Mente x Pele
Já se sabe que a ansiedade e o estresse psicológico podem atuar como desencadeadores de doenças cutâneas (como a dermatite seborreica) ou como agravantes de condições preexistentes (como vitiligo, por exemplo). Além disso, o próprio estresse, em especial através do cortisol, compromete os mecanismos de restauração da função de barreira cutânea após lesões mecânicas ou químicas. Ou seja, a capacidade da pele de atuar como barreira diminui e, com isso, há grande perda de água. Isso deixa a pele ressecada e agrava crises de dermatite atópica, dentre outras consequências.
Mente x Câncer
Esse é um assunto polêmico, mas que, ironicamente, não tem grandes evidências para solucionar suas questões. Existem várias teorias afirmando que o estresse favorece o desenvolvimento do câncer por uma mistura de mecanismos envolvendo desde o estresse oxidativo até a deficiência imune. Quanto a isso, não é possível confirmar a teoria nem o mecanismo.
O que algumas pesquisas evidenciaram é que o estresse interfere na angiogênese (produção de novos vasos sanguíneos pelo tumor), na proliferação celular, na adesão das células cancerosas aos tecidos, na migração dessas células, na invasão vascular e em sua sobrevivência. Como resultado, as células tumorais ficam mais propensas a sair de seu sítio primário e se instalarem em novos locais, dando origem às metástases.



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